12 de janeiro de 2012

O ANTIGO RAMAL DO SEIXAL

O Comboio na Azinheira nos Trilhos da Memória 

O Ramal do Seixal, originalmente conhecido como Ramal de Cacilhas, é um troço ferroviário desactivado, que ligava as estações do Seixal e do Barreiro.
Este troço foi a única parte concluída do projecto do Ramal de Cacilhas, que planeava a ligação entre o Barreiro e Cacilhas, onde seria construído uma estação intermodal, que servisse os transportes ferroviário e fluvial, de forma semelhante à do Barreiro.
Subsistem as estações e partes do leito de via e de uma ponte, no troço entre o Barreiro e o Seixal. 

Em 1923, o vapor proveniente do Barreiro apitava pela primeira vez sobre a ponte metálica que o ligava ao Seixal através da Azinheira. Tratava-se da inauguração de uma obra cuja discussão remontava aos finais do século XIX e que chegou inclusive a animar diversas sessões parlamentares nos últimos anos da monarquia. Manuel d’Oliveira Rebelo, na sua “Monografia do Concelho do Seixal”, dá-nos conta do acontecimento: “As comunicações do Seixal com o resto do País beneficiaram muito com a exploração da linha férrea, cuja inauguração se efectuou em 29 de Julho de 1923, com a assistência do Chefe do Governo, Eng.º António Maria da Silva.
A primeira ligação Lisboa-Barreiro- Seixal fez-se pelo vapor “Europa”, que saiu da ponte do Terreiro do Paço às 11.30, com os membros do Governo. Ao chegar ao Barreiro, o Eng.º António Maria da Silva e a sua comitiva tomaram lugar no comboio inaugural que se encontrava vistosamente decorado, seguindo nele até ao Lavradio e daqui para o Seixal, onde chegaram depois de uma curta paragem na ponte de construção metálica que atravessa um dos braços do Tejo.
Assim que o comboio chegou à estação do Seixal a multidão exultou de alegria, ao mesmo tempo que as bandas da Timbre Seixalense, União Seixalense e Alto Pina executavam os acordes do hino nacional. 
Ao penetrar no edifício recebeu o Governo os cumprimentos das autoridades locais, tendo usado da palavra Alfredo dos Reis Silveira, na qualidade de presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal, e Joaquim dos Santos Boga, como presidente do Senado Municipal, agradecendo ambos o importante melhoramento que constituía a ligação do Seixal à rede ferroviária nacional.
Realizou-se um cortejo e, na Associação Comercial e Industrial, o Presidente do Ministério saudou a população seixalense por ter visto realizada, naquele esplendoroso domingo de Verão, uma das suas maiores aspirações”. 

Como Era... 

O Ramal do Seixal foi a única parte que chegou a ser construída da projectada ligação entre o Barreiro e Cacilhas, com ligação a Lisboa por via fluvial.
Porém, não chegou a alcançar meio século de existência uma vez que a mesma foi desclassificada e a circulação suspensa após o derrube da ponte metálica que fazia a ligação entre o Barreiro e o Seixal, provocado pela colisão do navio “Alger”.
Em Setembro de 1969, aquele navio dirigia-se para a Siderurgia Nacional, rebocado por duas lanchas, quando embateu contra um dos pilares da ponte, levando à sua queda numa extensão aproximada de uma centena de metros.
A partir de então, o tráfego passou a ser feito por via rodoviária através de Coina o que, para além de outro inconveniente, representou um acréscimo brutal no custo do transporte na medida em que os utentes, habituados a pagar 80 centavos, viram bruscamente encarecidos os preços para 2$50.
Entre as pessoas que foram afectadas com a falta deste meio de transporte contam-se os militares e os operários que então prestavam serviço na Azinheira e tomavam lugar no comboio, num pequeno apeadeiro que existiu no local onde se encontra a antiga bilheteira.
Entretanto, à excepção do tramo que foi danificado aquando do abalroamento pelo navio “Alger”, a ponte que ligava a Azinheira ao Barreiro foi instalada em Alcácer do Sal, sobre o rio Sado, passando a servir o transporte rodoviário. De igual forma, a ponte que existiu sobre o rio Judeu, no Seixal e que também se destinava à ligação ferroviária, foi levada para Alcácer do Sal onde serve a linha-férrea.
Decorridas quatro décadas desde o abandono daquela ligação ferroviária, eis que o património edificado a que ainda foi possível acudir se encontra preservado graças à intervenção do Instituto Hidrográfico e da Marinha, para memória das gerações vindouras e como testemunho de uma época, valorizando desse modo a arqueologia industrial do Seixal e do próprio país.
A antiga bilheteira já recuperada 
Da “Linha do Sul” fazia parte o Ramal do Seixal que atravessava as Instalações Navais da Azinheira e do qual ainda se preserva a antiga bilheteira que servia o pessoal que ali trabalhava.

Extracto do Plano Hidrográfico do Porto de Lisboa de 1930.
Os simpáticos tractores Sentinel também foram utilizados no ramal do Seixal, por sinal o seu único serviço na Região Sul. Na imagem o 1175 nas suas elegantes cores originais (azul, amarelo, preto e vermelho)
 FOTOS E TEXTO DE: GOMES, Carlos (2010) Artigo “O Comboio na Azinheira nos Trilhos da Memória” publicado no nº110 do “Hidromar” (publicação do Instituto Hidrográfico)
 http://www.hidrografico.pt/hidromar-dezembro-2010.php

Algumas das fotos são de de autores desconhecidos, peço a colaboração de todos os visitantes detentores de fotos aqui mencionados, que se identificassem para menciona-los neste blog.

5 comentários:

  1. Fantástica história, sem dúvida. Ajudou-me a esclarecer as minhas memórias de infância, de onde no Barreiro avistava curioso os destroços de uma ponte.

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  2. Boa tarde,
    Agradeço o seu comentário, tento neste blog realçar o grande património que existia do Caminho de Ferro, pena é que isto não chega e damos conta no dia a dia ao desmembramento do que era uma grande empresa.
    obrigado
    F.M.

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  3. Bom dia,
    Muito interessante. Pena não ter sido reconstruido.

    Já agora atrevo-me preguntar:
    Pretendia saber onde comprar as antigas "Sulipas"? em madeira. (O assentamento de madeira dos rails que agora tem sido substituídos por unidades em cimento em grande parte da rede ferroviária).

    Caso poder ajudar, encaminhar-me para onde será possível conseguir estes agradeço.

    Atentamente,

    Mingo Jorgensen H.
    Arq.BA(Hons-England)MID
    mingo.arqu@gmail.com


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  4. Creio que falta apenas referir o autor... GOMES, Carlos (2010) - O Comboio na Azinheira nos Trilhos da Memória. In Hidromar Boletim do Instituto Hidrográfico. GOMES, Carlos (2010) O Comboio na Azinheira nos Trilhos da Memória. Hidromar Boletim do Instituto Hidrográfico. Lisboa: Instituto Hidrográfico. N. 110. II série, pp. 2122. Disponível em https://www.hidrografico.pt/recursos/files/20101201_Hidromar_110.pdf.

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    1. Obrigado pela sua observação, deve ter sido uma falha minha, irei retificar a situação.

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