5 de novembro de 2011

DEPÓSITO DE MÁQUINAS



Eram os Depósitos de Máquinas as instalações onde se acoitavam as locomotivas durante os intervalos do serviço na linha, com a finalidade de aí serem abastecidas de carvão e água e, também, de aí receberem para além da assistência de rotina. Algum apoio suplementar eventualmente considerado indispensável para o seu desempenho.

Localizam-se, assim, estes Depósitos, necessariamente, junto das estações de maior concentração de origem e término dos comboios ou bifurcações envolvendo rupturas de tracção.

A assistência de rotina era efectuada num edifício em forma de coroa semicircular a chama rotunda das máquinas ou (Coheira) datada de 1886, onde alojava 20 locomotivas a vapor, que eram distribuídas por meio dum transportador giratório o chamado charriot, e aí compondo imagens não destituídas de certa imponência.
A rotina consistia, obrigatoriamente, na regulação das timonerias de freio, na substituição de cepos e mangueiras em mau estado, na verificação e correcção dos órgãos de tracção e choque, no ajustamento dos mecanismos de conjugação e distribuição, na lubrificação de bronzes, na comprovação de manómetros e vacuómetros, no reaperto e/ou substituição de juntas e empanques, na verificação de tubagens, válvulas e torneiras, efectuando-se, ainda, outras operações de maior vulto reconhecidas como necessárias, ou impostas por deficiências relatadas pelos maquinistas nas suas partes diárias, desde que estivessem ao alcance dos meios localmente disponíveis.

Nos Depósitos, contudo, o trabalho mais emblemático era o dos Limpadores. A estes cabia esvaziar os cinzeiros – o que exigia arrancar (literalmente) a jorra acumulada nestes, nas grelhas e na zona inferior das caixas de fogo. Também lhes competia remover a fuligem e as cinzas acumuladas nos tubos e nas caixas de fumo. Esta última intervenção não se efectuava diariamente, pois o apagamento da caldeira imobilizava a máquina durante longas horas.

Era, pois, uma profissão suja e desgastante, a de Limpador, mas praticamente, era a única porta de acesso à muito cobiçada carreira na Tracção. Daqui se passava (mediante estágio e exame) a Fogueiro, depois a Fogueiro Autorizado, seguidamente a Maquinista (de 3ª, 2ª, 1ª e Principal) por fim, a Chefe de Maquinistas podendo, então, candidatar-se à fileira dos Inspectores de Tracção. Eram profissões exigentes, mas relativamente bem renumeradas e até socialmente prestigiantes em certas zonas do País.

Uma vez que nas locomotivas a vapor era prática corrente o conceito de «titularidade», a cada máquina imobilizada corresponderia uma tripulação inactiva. Desse facto tirava-se partido fazendo com que, nesses intervalos, maquinistas e fogueiros colaborassem em certas tarefas menores de manutenção e, ainda, outros cuidados acessórios determinados pelo brio e esmero pessoal dos titulares à sua máquina.

Exemplar raro deste tipo de construção ferroviária, com a sua dimensão é já peça única no País.
Seria do maior interesse dotar a velha rotunda com locomotivas em estado de marcha, para num futuro breve organizarem-se viagens históricas nas linhas a Sul e Sueste. Tendo em conta que o Barreiro foi sempre considerado como a “Catedral do Diesel” pelos ferroviários.

É claro que, com o fim do depósito de máquinas e da exploração ferroviária, parte dos edifícios foram também abandonados.
Armazém regional, rotunda, oficinas e muitos armazéns e valências foram assim encerrados, alguns até emparedados, deixando de ter a função e a utilidade que tinham até aqui.










TEXTO RETIRADO DO LIVRO: Para a História do Caminho de Ferro em Portugal, de autoria de Francisco de Almeida e Augusto Cerveira 5º Volume.
FOTOS: htto://barreiroweb.com
            e: Carlos Borralho 

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